miniconto 6 - Décima Rodada, frase obrigatória "Fingir-se de morto não vai adiantar"
Código 1001
Fui até o décimo andar e pedi para falar com o Sr Ludovico, dono da fábrica. A secretária me disse que ele estava almoçando em sua sala, mas poderia me receber. Entrei, ele estava comendo um salmão com legumes, me sentei de frente para ele e disse:
_Eu me demito.
_Que?
_O senhor está surdo?! Eu me demito, porra!
_Eu entendi o que você disse, só queria entender o porquê depois de tantos anos de empresa...
_Quando eu entrei nesta sala, pensei: "eu ficaria muito puto se fosse esse peixe que morreu para alimentar um cara tão babaca como o meu chefe. Da minha parte, eu não daria nem a minha merda para alimentar o Sr Ludovico". Logo depois, me dei conta de que o senhor não come a minha carne, mas eu gasto os melhores anos da minha vida para que o senhor seja ainda mais rico. Eu dou o meu suor para que a empresa do senhor dê lucro. Eu sacrifico o tempo com os meus filhos, me arrisco nas máquinas perigosíssimas da sua fábrica para um salário de fome no final do mês!
_Compreendo. E o senhor acha que vai viver de que exatamente?
_Não sei. Ando pensando que talvez eu não precise de tudo isso para...
_Perfeitamente. Já entendi.
O Sr Ludovico me interrompeu, tirou o telefone do gancho, anunciou uma emergência código 1001 ao telefone e, antes que ele recolocasse o fone na base, um segurança invadiu sua sala, injetou uma droga no meu pescoço e então eu apaguei.
*
Acordei me sentindo desconfortável e percebi estar sentado em uma poltrona com pés e mãos atados. O segurança que havia me drogado se aproximou e começou a dar instruções:
_Demorou a acordar! O senhor assistirá a algumas cenas que serão projetadas nesta parede. Saiba que fingir-se de morto não vai adiantar, por isso instalarei nos seus olhos estes mecanismos que não lhe permitirão fechar os olhos.
Depois de colocados os equipamentos que mantinham meus olhos abertos, a projeção começou. Na primeira cena, vi meus filhos estudando no melhor colégio da cidade, em suas mãos a aprovação no vestibular mais concorrido do país. Logo, a cena cortou para uma praia paradisíaca. Tentava definir se o mar era verde ou azul quando me vi mergulhando entre peixes coloridos ao lado da minha esposa e dos meus filhos. Corta. Estamos em uma feira com os mais recentes lançamentos eletrônicos. São gadgets incríveis controlados pelo movimento dos olhos, pela voz... Eu e minha família olhamos tudo maravilhados. Corta. O carro do ano. Corta. O corretor anunciando uma oportunidade única no local onde sempre desejamos morar. Sauna, piscina, um quarto para cada filho. Corta.
*
O segurança me desatou, saí ainda tonto da sala e encontrei a secretária do Sr. Ludovico.
_Como vai? Ele deseja saber se o senhor quer mesmo se desligar da nossa empresa.
_Não, senhora. Peça desculpa a ele se eu o ofendi. Diga que não foi minha intenção, que perdi a cabeça.
_Perfeitamente. Tenha um bom dia de trabalho.

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