sábado, 21 de setembro de 2013

Nona rodada, miniconto 1

A espera





Eram por volta de 2:30 da manhã do dia 23 de janeiro de 2013, o posto de gasolina estava vazio e somente três ou quatro pessoas ainda frequentavam a loja de conveniência naquela quarta-feira. Já não compensava manter o comércio aberto para atender meia dúzia de gatos pingados e eu e meu filho já nos preparávamos para encerrar o expediente, quando duas motos, com quatro ocupantes, estacionaram em frente à loja. Da garupa da primeira moto, desceu uma mulher nitidamente morena, mas de cabelos loiros, que avançou em direção à porta da loja sacando o 38 de dentro do blusão de couro, anunciando o assalto. Dentro do estabelecimento éramos somente quatro pessoas, o meu filho, duas clientes que ficaram petrificadas de medo e eu. Quando antevi que o assalto era iminente, tratei de manter-me calmo e imóvel, mas meu filho, que estava de costas, levou um tremendo susto e virou-se bruscamente tentando se defender. Algo que a assaltante interpretou como um gesto de ameaça e, por isso, acionou o gatilho. Vi quando a bala penetrou no peito de Helinho, fazendo seu corpo oscilar, jogando-o para trás. Corri em sua direção, mas uma coronhada jogou-me grogue no chão. Eu já não tinha mais dúvida, estávamos sendo assaltados pela ‘quadrilha da moto’, uma gangue responsável por muitos assaltos a postos de abastecimento da Zona Leste de São Paulo, conhecida por agir com extrema violência, liderada por uma famigerada criminosa conhecida pela alcunha de Tati Tresoitão. Ali, deitado sobre uma poça de sangue, vi o brutal assalto se desenrolar sem nada poder fazer, enquanto ao lado meu querido único filho despedia-se da vida. Terminado o assalto, a facínora andou em minha direção. Eu pensei que seria o fim, mas ela simplesmente encarou-me, deu um sorriso cínico, frio, caminhando em seguida de volta para a moto. Se eu fosse ela, pegava essa moto e não voltava mais, porque se voltar estarei à sua espera – pensei pouco antes de desmaiar.

*


Hoje, quatro meses depois do assalto que culminou com a morte de meu único filho, minha vida mudou completamente. Antes, eu tinha uma família e um negócio próspero. Agora, sou apenas um homem solitário buscando um último e definitivo prazer – a vingança. Minha esposa enlouqueceu ao saber da morte de nosso filho e permanece internada numa instituição para doentes mentais, sem, na minha opinião, qualquer possibilidade de recuperação. Passei dois meses internado devido à pancada na cabeça e o negócio próspero que possuíamos degringolou, perdeu clientela, encontrando-se atualmente à beira da falência. Mas nada disso importa. O importante é que sinto no fundo da minha alma que um dia Tati Tresoitão voltará numa dessas madrugadas da vida e eu estarei à sua espera, pronto para fazer justiça. 

E há de ser um momento único, divino, apoteótico, que compensará as madrugadas de espera sem fim e cada minuto de minha vida sem sentido desde o dia 23 de janeiro de 2013.

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